HPA Magazine 18
Ginecologista Obstetra Sub especialista em Medicina Materno Fetal Diretora do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia
Em resumo, o Treino em Emergências Obstétricas deve ser feito com uma periodicidade de modo a manter as performances de toda a equipa. O treino promove uma boa prática, permitindo também identificar e corrigir fatores individuais e do sistema, de modo a otimizar o outcome clínico. A importância do treino é efetiva, pois as emergências obstétricas nem sempre podem ser antecipadas, mas os impactos destes eventos adversos podem ser diminuídos pelo treino das situações de emergência obstétrica, traduzindo-se por uma melhoria na taxa de resultados perinatais positivos.
Em conclusão, as emergências obstétricas são imprevisíveis e súbitas e são situações que colocam em risco eminente de vida a grávida e o feto, pelo que devem ter uma resolução imediata e consistente para um desfecho positivo. Uma abordagem de sucesso requer uma resposta rápida e coordenada por equipas multidisciplinares.
No treino participam Médicos, Enfermeiros Especialistas, Enfermeiros Generalistas e Auxiliares de Ação Médica do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia e profissionais de outros serviços sempre que necessário.
A organização dos treinos consta de uma primeira fase, onde as emergências obstétricas mais importantes são identificadas, uma segunda fase de desenvolvimento dos casos selecionados para treino in situ, e uma terceira e última fase onde as performances são analisadas, assim como a satisfação da equipa multidisciplinar. Foram selecionadas duas situações de emergências obstétricas para treino no mês de maio: hemorragia pós-parto e convulsões. Os profissionais de saúde melhoraram significativamente as suas capacidades após o treino, e ficaram altamente satisfeitos com a experiência do mesmo.
Conseguimos assim atingir os objetivos do treino:
1. Melhorar a qualidade da equipa da Maternidade, Grávidas e Puérperas do HPA Gambelas.
2. Treinar a equipa para situações de emergências obstétricas no próprio serviço e assim melhorar a prática profissional e o trabalho em equipa.
3. Ajudar a equipa a avaliar e melhorar a sua resposta em situação de emergência obstétrica.
4. Identificar áreas para melhoria de qualidade.
5. Testar a rapidez de resolução das emergências obstétricas.
6. Melhorar o desempenho do serviço como um todo.
Ginecologista Obstetra
Emergência|n.f.: situação grave ou momento crítico.
Assim, em obstetrícia, a antecipação das complicações obstétricas é crucial para o bom desfecho materno e fetal, com uma vigilância e um seguimento adequados de forma sistemática em consulta específica. No entanto, as emergências são muitas vezes súbitas e chegam-nos sem qualquer aviso e em qualquer contexto: em consulta, em urgência ou em internamento.
E é por isso que é tão importante o treino em emergências obstétricas. O conhecimento e a coordenação da equipa multidisciplinar são essenciais para a resolução e controlo da situação emergente. O médico obstetra, enquanto team leader, deverá com clareza, objetividade e tranquilidade, avaliar a paciente e a situação clínica, organizar e orientar a equipa, focado na abordagem diagnóstica e terapêutica dirigida.
A evolução dos tempos e da tecnologia, têm permitido a evolução exponencial em medicina, e especificamente em obstetrícia, fomentando a evolução dos exames de diagnóstico e das terapêuticas. Consequentemente, os protocolos de atuação clínica estão em constante atualização, com vista à melhor abordagem ao paciente. O treino em emergências obstétricas permite a toda a equipa, e ao médico em particular, a aquisição de mais conhecimento, de atualizações e ganho de novas competências, cada vez mais específicas, preparando-o para as situações mais limítrofes.
Igualmente importante, o treino em emergências obstétricas permite também o aperfeiçoar da comunicação, fortalece as ligações e potencia a complementaridade e o respeito entre a equipa.
Os treinos em emergência obstétrica foram reiniciados no ano de 2022 com dois temas particularmente importantes, pelo seu impacto e pela frequência: hemorragia pós-parto e pré-eclampsia/eclampsia. Enquanto médica e formadora no treino em emergências obstétricas, foram notórias as atualizações inerentes a estas duas situações clínicas, com impacto na mudança dos nossos protocolos internos de atuação, pelo que não só permitiu sistematizar a abordagem dirigida, como reforçar os conhecimentos e competências já adquiridas previamente.
O bem-estar materno e fetal são o nosso objetivo diário. O foco em evitar complicações potencialmente graves na díade mãe-bebé é o nosso propósito enquanto obstetras. Todavia, perante uma emergência, o obstetra treinado, com competências e conhecimento, contribuirá para a resolução atempada e bem-sucedida da mesma.
Vamos aos próximos treinos?
Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia
A promoção dos Cursos de Emergências Obstétricas no HPA pelo Serviço de Ginecologia e Obstetrícia visam justamente otimizar essa capacidade de resposta por parte da equipa multidisciplinar a situações emergentes que envolvem a grávida e o feto e que, por não serem habituais, exigem treino simulado.
As situações de emergência em obstetrícia são geralmente raras e as oportunidades de as experienciar em contexto real são escassas, sendo, portanto, fundamental a formação simulada para todos os profissionais de saúde, com a criação de cenários e de casos clínicos no seu contexto de trabalho.
Foram por isso criadas situações nos três setores do Serviço de Ginecologia e Obstetricia em que a grávida pode estar envolvida numa emergência: Consulta de Ginecologia e Obstetrícia, Puerpério e Bloco de Partos. Os profissionais habitualmente presentes nestes setores foram confrontados com a ocorrência súbita de um episódio emergente envolvendo uma grávida (convulsões e hemorragia pós-parto) e com a necessidade de pedir auxílio e mobilizar os recursos humanos e materiais para lhe dar resposta.
Em emergência uma atuação eficaz exige o domínio de conhecimentos teórico-práticos para reconhecer situações, capacidade técnica e de comunicação e organização do trabalho em equipa por parte dos profissionais. É fundamental a atitude básica inicial de pedir ajuda perante a gravidade de um cenário com que nos deparamos e iniciar com esta atitude a sequência de atuação articulada, encadeando todos os recursos e tomadas de decisão com eficácia, para um desfecho favorável.
A realização destes cursos revela imprescindível o treino regular, destaca o reconhecimento das funções dos diferentes profissionais – médicos, enfermeiros especialistas, enfermeiros generalistas e auxiliares de ação médica – e a valorização das suas competências aos mais diversos níveis.
Enfermeiro Generalista
Em 2016 entrou em vigor a resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) intitulada de Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável, constituída por 17 objetivos. Pertinente à área aqui explícita observa-se a presença do Objetivo 3: Saúde de Qualidade, onde as metas passam por reduzir a taxa de mortalidade materna global para menos de 70 mortes por 100.000 nados-vivos, acabar com as mortes evitáveis de recém-nascidos e crianças menores de 5 anos, com todos os países a tentarem reduzir a mortalidade neonatal para pelo menos 12 por 1.000 nados-vivos e, a mortalidade de crianças menores de 5 anos para pelo menos 25 por 1.000 nados-vivos, até 2030.
Constata-se que, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), 85.900 partos ocorreram no ano de 2019 em Portugal (dado mais recente), porém, em 2020, dados comprovam a presença de 20.1 óbitos maternos por cada 100.000 nascimentos, todos com causas ligadas a complicações da gravidez, do parto e puerpério, tais como 166 mortes neonatais e, a certeza que 31.6% dos óbitos fetais descritos foram provocados por complicações da gravidez, trabalho de parto e parto.
Apesar de Portugal apresentar valores extremamente agradáveis relativamente às metas traçadas pela ONU, a importância da atualização científica e treino prático de resolução de complicações torna-se fulcral para a melhoria estatística. As baixas percentagens de óbitos descritas anteriormente estão diretamente relacionadas com uma baixa percentagem de complicações associadas e inerentes a uma menor predisposição profissional para a resolução eficaz, conforme a evidência mais atualizada e fidedigna, devido à escassez de situações de treino real.
De acordo com o regulamento do perfil de competências do enfermeiro de cuidados gerais, o enfermeiro deve, então, desenvolver processos de formação contínua, contribuir para a melhoria da qualidade dos cuidados de enfermagem, promovendo a saúde.
Verifica-se, no Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do HPA – Gambelas, uma equipa interna predominantemente constituída por enfermeiros generalistas alocados, principalmente, no serviço de puerpério, local de acolhimento das parturientes e respetivos recém-nascidos após cumprirem o pós-parto imediato. Estudos relatam a ocorrência de situações de emergência nas primeiras vinte e quatro horas pós-parto. As complicações associadas são momentos que podem causar muito stress, onde a falta de mecanização de procedimentos promove uma desorganização mental na equipa, dificultando a resolução do problema.
Com isto, é de salientar a importância do curso em emergências obstétricas realizado na instituição, principalmente numa ótica de enfermeiro generalista, muito pelos conhecimentos adquiridos e pela promoção da prática em situação crítica, em contextos onde o rácio de enfermeiros de cuidados gerais é elevado, como no puerpério.
Auxiliar de Ação Médica
Este ano dedicámos o mês de maio ao treino de Emergências Obstétricas no nosso Serviço.
Para nós, Auxiliares de Ação Médica, estas formações têm um significado importante com inúmeras vantagens.
Ficamos com uma noção da realidade, do que nos pode acontecer a qualquer momento, sabendo assim como poder contribuir e atuar na ajuda aos profissionais de saúde, sem atrapalhar ou complicar mais a situação.
O conhecimento do processo de atuação emergente, e o melhoramento nas relações entre profissionais para podermos trabalhar em equipa é fundamental.
Durante a simulação, podemos analisar mais ao pormenor, erros ou fazer alguns melhoramentos, para evitarmos situações indesejáveis numa situação real.
Ganhamos a capacidade de agir antecipadamente, evitando ou resolvendo problemas futuros.
Com estas formações, todos podemos contribuir para o sucesso e bons resultados, tudo em prol do bem-estar das nossas grávidas e puérperas.
Psicologo Clínico
Exemplo disso são as sessões regulares de treino em emergências obstétricas, desenvolvidas pela Diretora de Serviço, com o envolvimento de toda a equipa multidisciplinar de profissionais do setor, através de uma componente formativa, aliada a uma técnica prática de role-playing, baseada em estudos de caso, em que os profissionais recriam, através de um guião, a simulação de uma emergência, nos diversos contextos de atuação, nos Serviços de Urgência de Obstetrícia, Consulta Externa, Bloco de Partos e Internamento. No final de cada exercício e como forma de consolidação de boas práticas, é realizado um debriefing.
Este tipo de atividades constitui, do ponto de vista da psicologia, um valioso instrumento de desenvolvimento de comunicação e assertividade, com impacto positivo na relação entre profissionais, de aprendizagem e de desenvolvimento de conhecimento, no sentido em que a equipa é potenciada a adotar ações mais adequadas, nos momentos mais adversos. Estes exercícios são fundamentais pois permitem que cada elemento desempenhe da melhor forma a sua função na prática clínica.
Esta preocupação na atualização constante de conhecimento surge naturalmente não apenas com o objetivo de dotar o grupo de maior destreza na prática clínica, mas também como treino na resposta face a uma eventual necessidade clínica da mulher